Infância


Nasci em Curitiba numa tarde fria do dia 09 de junho de 1958, era prematura e muito pequena, e no parto tive um pequeno derrame. 

Meus pais Eros Greca e Berenice de Paula Soares Greca, formaram uma linda familia e merecem um capitulo à parte pelo amor que tinham um pelo outro. Tiveram cinco filhos: eu,  Cláudio, Edison, Luiza e Martha, sempre juntos nas festas, em volta da mesa e claro todos falando ao mesmo tempo.

Eros era um homem alto, reservado, católico, sempre atento com a familia. Bere, como a chamávamos, era pequena, alegre, criativa e com muita opinião.

Casamento dos meus pais
Meu pai engenheiro civil e minha mãe professora, assim que se casaram foram morar no pé da serra do mar, no Bairro Alto, em Antonina. Ele foi chamado para construir uma hidrelétrica na região e ela, professora, aproveitou para dar aulas para as crianças do local.

Minha mãe ficou grávida e por pouco eu não nasço por lá, pois o acesso ao local era muito difícil, com transporte de Jipe e  de barco. Me criei com os filhos dos engenheiros da obra e dos moradores da região.

Eu e a mãe em frente a casinha no Bairro Alto em Antonina




No colo do pai
Com a madrinha Orietta



Com o famoso cachinho na testa, "Caça Rapaz"







Claudio, com covinhas no rosto era forte, dorminhoco e alegre. Por ser grande, sempre me acompanhava nas festinhas, e espantava os garotos metidos.
É doutor em biologia e professor da UFPR. Casado com a Ana  tem os filhos, Mariana e Leonardo.
Adora fazer churrascos e contar as histórias da nossa casa da praia em Caiobá.


Edison, magrinho, esperto e curioso. Adorava ver os mapas do mundo e era fascinado em geografia. Foi meu confidente na época dos namorados.
Engenheiro Civil como o nosso pai, trabalha em muitas obras pelo país afora. Casou-se com a Lizmari  com quem teve o Renan.
Toca violão e é apaixonado por música e artes em geral.
Luiza, nossa irmã polaca, braba, comilona e inteligente. Excelente em matemática como eu nunca fui, muitas vezes eu cuidei dela, enquanto os nossos pais iam ao cinema.
Também é  engenheira civil, e trabalha como consultora e avaliadora de obras. Casada com o Lineu, tem os filhos Gabriel e a Raiana
Adora estar com a família, é super organizada e ótima cozinheira.


Martha, pequena, tímida e muito observadora, é a que mais se parece fisicamente comigo. Poderia ter sido uma linda bailarina se tivesse seguido a carreira na dança.
É formada em veterinária, porém seguiu outro caminho e trabalha no laboratório do banco de sangue da Santa Casa.
É excelente nos bordados, também é ótima na cozinha e ama o ballet.

Nós cinco: Cláudio, eu, Luiza, Martha e Edison

Familia reunida
Logo em seguida fomos para a cidade de Cornélio Procópio, cidade no norte do Paraná e da terra vermelha. Estava com quatro anos e fui estudar na pré-escola no colégio N. S. do Rosario e foi lá onde desabrochou a minha vocação artística. Fiz uma participação numa peça de teatro da escola, com um vestido de época verde confeccionado pela minha vó Luiza. Lembro de entrar no palco e ficar extasiada com tudo, mas o que mais me encantou foi o entorno do palco, os bastidores.
Eu, de cabelo curto na fila de cima, a terceira da esquerda para a direita.

Eu falava carregado porrrta, porrque, e comiamos manga no pé.
Lembro de participar  das procissões no dia de Corpus Christi vestida de anjo e com o queixo enfaixado, depois de um acidente em uma brincadeira de puxar cordas com o meu irmão Cláudio.

Nossa casa não era muito grande mas brincávamos muito  por lá com o nosso cachorro "Negrinho", sempre tivemos animais em casa e tínhamos muitos amigos na vizinhança. Íamos sempre nas férias para Camboriú, e eu aproveitava para tomar o famoso banho no balde para refrescar e me divertir.

Em cima do fusca do meu pai

Aniversário de cinco anos com bolo temático feito pela tia Orietta










A minha madrinha Orietta, sempre foi como uma segunda mãe. Generosa, prestativa e sempre presente em todas as ocasiões. Ela era quem fazia os nossos bolos de aniversários, com temas variados e muito originais.

Minha mãe que era carioca, adorava os carnavais e como eramos socios dos clubes Circulo Militar do Paraná, Clube Thalia e Clube Santa Mônica, ela sempre nos levava para os bailes e minha avó Luiza todo ano  fazia as mais diversas fantasias.

Os Natais eram incríveis, tanto com a família Paula Soares como com os Greca. Muita gente, muita criança e muita comida.
Eu lembro de ter ganhado de presente, na casa do tio Schneiker, um joguinho de panelas que fazia comida de verdade.

Havia também os almoços na casa da tia Madalena, um casarão na Rua XV de Novembro, em frente da Reitoria, onde uma grande  mesa era colocada na varanda do quintal.
As tias italianas faziam o macarrão e os cozinhava em grandes panelas, além de fazerem doces maravilhosos. O gosto por cozinhar veio delas e também da minha mãe.

Eu e a Celina
Mesmo tendo muitos primos, alguns sempre foram especiais, como minha prima Celina, sempre doce, alegre e amiga.

Voltamos de Cornélio e fomos morar na Rua Mateus Leme, enquanto meu pai construía uma casa para nós no Alto da Rua XV. Uma casa espaçosa de quatro quartos, um quintal grande onde minha mãe criava galinhas, papagaio e cachorros.

Casa do Alto da XV, Rua Monte Castelo nº 81
Meus amigos vizinhos Nato, Vera e Bea Coimbra

Aproveitei bastante a minha infância, tinhamos o "Clube do Coelhinho", faziamos concursos de miss e vendíamos para a vizinhança cartões de Natal decorados com purpurina para arrecadar dinheiro para o clube.
Eu tive várias coleções: de conchas, de pedras, de bonecas de pano e de cartões de Natal.

Meu pai, muito católico, resolveu me colocar num colégio de freiras americanas, Colégio Nossa Senhora Esperança. Elas eram muito duras e as experiências que tive neste colégio me marcaram bastante.
Eu sou a quinta de franjinha na primeira fila de joelhos. As melhores amigas eram: Bea, Leilane e Elizabeth.

Minha primeira comunhão foi traumática. Na hora de entrar na igreja uma freira chamou a minha atenção e de uma colega por causa do véu que não ficava caído. Afinal, tínhamos o cabelo crespo e o tecido não abaixava. Fiquei com tanta raiva que a  vela que eu segurava na mão, partiu-se ao meio.

Dali em diante comecei a questionar o sentido da religiosidade, em como as pessoas de fé deveriam ser menos preconceituosas e ter mais respeito com as diferenças.

Talvez por influencia dos meus pais que adoravam dançar nos bailes eu comecei a pedir para a minha mãe para fazer dança.


Aos oito anos ela então me matriculou na Escola de Danças Clássicas do Teatro Guaíra. Minha primeira professora foi a Marlene Tourinho, considerada a primeira bailarina do Paraná. Lembro que na primeira vez em que fomos nos apresentar e estávamos nervosas com o palco ela nos disse: "Não tenham medo do palco, a platéia é escura e assustadora, mas lembrem que vocês tem um farol no peito e que irão iluminar tudo a sua frente."

Dançávamos com figurinos feitos de papel, plástico e sacos de estopa. Também haviam os Festivais de Dança no Guairinha, onde várias escolas da cidade participavam com torcida organizada.

Eu era muito agitada e ficava pelos corredores do teatro desbravando tudo. O Corpo de Baile foi criado em 1969, e eu e minhas colegas ficávamos olhando as apresentações da Cia, por um furinho do ciclorama, atrás do palco.

Touquinha das alunas da Escola de Danças

Um dos primeiros programas em que participei
No ano seguinte, seria inaugurado o palco do Guairão, mas houve um incêndio criminoso que destruiu o palco e toda a platéia, criando um buraco enorme a céu aberto. Foi muito triste. As salas de aulas ficaram todas chamuscadas de fuligem, e o cheiro de fumaça estava por toda parte.

Eu era irriquieta, hiper ativa e dava um enorme trabalho para as professoras. Até que um dia aconteceu algo inusitado: uma das professoras Liane Frank tinha uma coluna  na Gazeta do Povo, um jornal importante da cidade, onde ela comentava sobre a escola e as alunas. Numa destas colunas ela mencionava o meu nome e dizia que eu era talentosa, mas que o meu temperamento me atrapalhava.

Meu pai, que lia o jornal inteirinho, quando leu a coluna me chamou e me deu uma enorme bronca.


Logo depois deste comentário, a diretora da escola, D. Yara de Cunto, me chamou e disse que ela e mais algumas professoras iriam ao Rio de Janeiro assistir as apresentações do Royal Ballet, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que havia um ingresso sobrando e que elas gostariam de me levar com elas. Na hora eu não entendi o porquê de terem me escolhido, mas aceitei.

Ficamos hospedadas na casa da tia de uma das professoras. Ao entrar no teatro fiquei extasiada e o espetáculo que assisti foi "O Lago dos Cisnes", que foi magnífico e lembro de ter ficado impressionada com a perfeição e a técnica das bailarinas. No dia seguinte elas me levaram na entrada dos artistas e ficaram insistindo com o porteiro para que pudéssemos assistir a uma aula da Cia, mas não conseguiram. Porém fiquei observando quando os bailarinos começaram a chegar e vê-los de perto foi especial.

Dois dias depois aconteceu uma situação engraçada: elas iam assistir "A Bela Adormecida", mas mesmo não tendo um ingresso para mim, elas resolveram me levar até o teatro. Havia uma aglomeração de gente na porta  e na hora de entregar o bilhete para o porteiro, eu que era pequeninha, senti um empurrão nas costas e acabei entrando no saguão. Quando olhei para trás, eu as vi gesticulando e mandando eu ir para as galerias.

Voltamos para Curitiba, e um tempo depois outro comentário sobre mim  aparece no jornal. Só que agora com elogios sobre o meu amadurecimento. Na sequência começo a estagiar na Cia.






Eu, pai, Luiza, Cláudio, Serginho, Mario e Chiquinho
Meu pai comprou uma casa na praia de Caiobá, e como a familia era grande, sempre haviam os primos, tios e amigos conosco. Minha mãe adorava ir para lá e ficávamos as férias todas, aprontando e curtindo o mar.
Entre os primos, o que eu sempre tive mais afinidade e amizade é o Chiquinho. Com ele comecei a ir nas festinhas  e a confidenciar as minhas paixonites.

Vó Luiza com os netos Cláudio, eu, Luiza e Marcelo (primo) no colo, Edison e Marcia (prima) 


                                                        Eu com os meus irmãos e primos

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