Juventude

Eu sempre visitava  os meus avós Paula Soares no Rio de Janeiro, e aproveitava para fazer aulas na academia de Dalal Achkar e de Dnª Tânia  (Tatiana Leskova), ao lado de Marcia Haydèe, Makarova, e outras estrelas do ballet mundial.

Comecei a estagiar no Ballet Guaira aos 14 anos, e o diretor na época era o polonês Yurek Shabelewski, que tinha um temperamento difícil.  Eu sempre levava bronca dele. Mas mesmo eu sendo tão nova e irriquieta, logo que comecei o meu estágio, ele me deu um solo na coreografia “Luz” com música de Bach e mais tarde fiz o dueto principal desta mesma coreografia, com o bailarino João Carlos Caramês, o Roby, que me ensinou muito e que quando dançava comigo ele dizia em cena: "Ame-me".
A Cia. tinha inúmeras dificuldades: dançávamos sem linóleo (tapete emborrachado que forra o chão do palco),  fazendo com que entrassem felpas nos pés dos bailarinos quando se dançava descalço; os figurinos eram simples, muitas vezes criados e pintados pelo próprio Shabelewsky; poucos homens dançavam e  as bailarinas mais altas precisavam fazer os papéis masculinos.
"Luz" coreografia de Yurek Shabelewski

No colégio das freiras eu participava do coral, montava apresentações de dança (com figurinos de mini saia) e fazia os famosos "Retiros Espirituais". Na volta de um deles, até pensei em ser freira. Mas bem nesta época eu comecei a ir nas festinhas da turma do meu primo Chiquinho, e esqueci esta história de ir para o convento.

Comecei então a ficar rebelde. Nas aulas de religião ficava questionando o tempo todo a professora que era freira, sobre o que se ensinava na Bíblia e os exemplos, nada interessantes, que as freiras davam no colégio. Entre eles a discriminação racial, social e o preconceito com alunas que eram filhas de pais adotivos.

Depois que eu me formei no ginasial  minha mãe resolveu me colocar em um colégio público. Virei "Normalista", estudante do Instituto de Educação do Paraná, que formava professores. Foi um período fantástico nesta instituição. Fui líder de classe nos três anos que estudei por lá.

Também aprendi datilografia. Minha mãe achava que se eu não passasse no vestibular, pelo menos eu teria dois cursos profissionalizantes, e poderia trabalhar como secretária ou como professora.

Quando saia do colégio eu passeava na Rua XV de Novembro e adorava ir na feirinha Hippie, na Praça Zacarias.

Uma vez as minhas colegas me seguiram achando que eu estava  na praça fumando maconha. Mas eu ia para comprar bonecas de pano pois eu  tinha uma coleção delas na parede do meu quarto, e também para ver o pessoal dos Hare Krishna cantarem. Melhores amigas da época: Cristina, Inês e Marilis.

No Instituto de Educação na aula de música, eu e a professora formamos um grupo de 50 alunos que tocavam violão. Fizemos apresentações em vários lugares e em programas de TV. Também montava coreografias para as colegas se apresentarem nos eventos do colégio.
Participamos de um Festival da Canção, concorrendo com duas músicas minhas. E ficamos entre os finalistas.


Ao lado, eu apareço organizando uma festa numa escola na periferia de Curitiba, junto com a mãe e a Martha no colo.
Como era professora estagiária eu levava violão e compunha músicas didáticas para as crianças, as levava para passear no Passeio Público e também levava lanche para elas. Muitas chegavam na escola sem ter tomado o café da manhã. Um dos alunos se chamava Wanderley e tinha o hábito de engolir moedas!


Para comemorar os meus 15 anos, pedi uma viagem de navio até Manaus. Fui eu e uma amiga do ballet, a Débora. Meus pais sempre achavam importante eu saber me virar sózinha, conhecer outros lugares, culturas e pessoas.
Na praia com a Tia Andréa e a mãe

Tia Nair com a filha Joana

No muro da casa da Rua Benjamim Constant, dos avós Paula Soares: Luiza (menina), tia Nair e as primas: eu, Aninha, Mariazinha, Suzana, Celina, Mª Luiz, Heloisa e Verginia

Do lado Paula Soares algumas tias tiveram alguma influência sobre mim: a tia Andréa era uma artista plástica fantástica e na casa dela sempre haviam lanches com vários artistas e as conversas eram totalmente filosóficas. Ela citava frases interessantes que me faziam refletir, como: "Na vida devemos nos livrar dos chatos", " Toda religião é uma prisão", "Devemos colocar beleza ao nosso redor, pois nos acostumamos com o feio".
A outra tia, é a Nair, a mais nova das tias Paula Soares. Ela é designer,  tem um olhar estético sobre as coisas e principalmente sobre as relações de família e do universo profissional.

Aos 17 anos fiz audição para ingressar na Cia e entrei como profissional no então chamado Corpo de Baile do Teatro Guaira,e o diretor então era o argentino Hugo Delavalle que acumulava o posto de coreógrafo e bailarino. Nesta época foram criadas várias coreografias, nas quais eu já participava como solista e fazendo duetos com ele.  Por eu ser hiper ativa e atacada, sempre que eu ia ganhar um papel de destaque nas coreografias, ele me ameaçava dizendo: "Ou você faz direito ou vou trazer uma bailarina de São Paulo para fazer". Nunca soube quem era a tal bailarina.
Nas viagens para o interior do Paraná, dançávamos em ginásios de esporte, tomávamos banho em paradas de caminhão nas estradas e dormíamos em hotéis muito simples. 
"As Estações", com Hugo Delavalle

"Bodas de Aurora" com Francisco Duarte
A turma do Beco, foi minha turma de adolescência, do primeiro namorado, das festas americanas na nossa casa, dos amigos, dos campeonatos de carrinhos de rolemã.

Meninas da "Turma do Beco"


Eu e o Rodi

Na turma conheci o Rodi, Rodnei Marchesi, engenheiro florestal.
Eu bem morena e ele branquinho, éramos o café com leite. Ficamos muitos anos namorando e depois nos casamos.

Com 19 anos resolvi me inscrever num curso de verão de 02 meses, na Escola de Dança Rosella Higtower, em Cannes na França. Foi a minha primeira viagem ao exterior e fui sozinha. Esta experiência me ajudou muito, tanto no aspecto profissional como no pessoal. Aproveitei na volta para conhecer Paris. Cidade maravilhosa, com as avenidas iluminadas e os parques enormes. Quase chorei ao ver a Torre Eiffel!

Cannes sempre maravilhosa

Logo em seguida a  Ana Botafogo foi convidada para trabalhar na Cia e eu comecei a revezar com ela alguns papéis. Dentre eles  o mais importante foi o ballet Giselle, em que eu precisei substituí-la numa apresentação em Brasilia. Foi o primeiro papel importante da minha carreira.
"Giselle"

Apresentação em Brasilia foi destaque na Gazeta do Povo

Assistam o dueto do balé "Giselle".  Eu e Wanderley Lopes (em 1996)



































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